#23. Velho Cego, Choravas. Pablo Neruda


Pablo Neruda

VELHO CEGO, CHORAVAS

VELHO CEGO, choravas quando a tua vida 
era boa, quando possuías nos teus olhos o sol: 
mas se o silêncio já chegou, o que é que esperas, 
o que é que esperas, cego, desta maior dor?

Em teu rincão pareces menino nascido  
sem pés para a terra e sem olhos de mar 
e como os animais dentro da noite cega 
- sem dia e sem crepúsculo - cansas de esperar.

Porque se conheces o caminho que leva 
em dois ou três minutos para a vida nova, 
velho cego, o que esperas, que podes esperar?

E se pela amargura mais dura e destino,
animal velho e cego em caminho e tino,
eu que tenho dois olhos saberei te ensinar.

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