Crônica de uma morte anunciada, de Gabriel Garcia Marquez

Livro: Crônica de uma morte anunciada

Autor: Gabriel García Márquez

Editora:Record [ 2006, 177p.]

Literatura latino - americana

"No dia em que iam matá-lo, Santiago Nasar levantou-se às 5h30 da manhã para esperar o barco em que chegava o bispo"

      Nas primeiras páginas de "Crônica de uma morte anunciada", publicada em 1981, o narrador já nos revela o destino fatal do personagem Santiago Nasar. A partir daí, acompanhamos todo o desenrolar da história por meio da reconstituição deste homicídio premeditado, ou seja, o narrador procura desvendar as motivações do crime e as razões pelas quais esta tragédia anunciada não foi impedida pelos habitantes do lugarejo. Vinte sete anos depois deste dia fatídico, o narrador retorna ao local do crime e remonta a história como um quebra-cabeça, colhendo informações por meio dos relatos dos moradores daquele pequeno povoado, dando ao enredo uma característica investigativa e jornalística.   

        A defesa da honra perdida foi o motivo que levou os irmãos Pablo e Pedro Vicário a cometerem o crime, pois sua irmã, Ângela Vicário, foi devolvida logo após a noite de núpcias, depois que seu marido constatou que a moça não era mais virgem. Pressionada pela família, Ângela denuncia Santiago como sendo o responsável por tirar a sua virgindade.   

       Ao saber que Santiado foi a pessoa que desonrou sua irmã e manchou o nome de sua família, os irmãos Pedro e Pablo Vicário resolvem se vingar e comentam com a vizinhança que iriam praticar tal crime. Por se tratar de um povoado pequeno, a notícia rapidamente se espalha. E, embora o assassinato tenha sido previamente anunciado e fosse de conhecimento de todos do lugar, as pessoas permaneceram indferentes, omissas, não despertando nenhuma ação que pudesse mudar os fatos, o que faz com que cada habitante daquela região carregue consigo sua parcela de culpa, responsabilidade e cumplicidade. 

        Um outro aspecto interessante é a representação da mulher na narrativa frente aos costumes da época em que preponderava a dominação masculina. Por meio das personagens femininas o autor nos permite levantar questinamentos sobre os valores socialmente instituídos, sobre as condições das mulheres naquela época e sociedade. Como exemplo, a personagem Ângela Vincário pertencia a uma família humilde, a mãe era profesora primária e criara os filhos para "serem homens", enquanto que as suas filhas tinham sido educadas para o casamento e para as atividades doméstica, o que deixava a mãe extremamente orgulhosa, acreditando esta ser uma boa educação para as filhas. Além disso, a própria família impôs à filha, Ângela Vicário, um casamento por interesses financeiros com o milionário Bayardo. O noivo era um forasteiro e tinha uma excelente condição financeira, mas exibia com arrogância querendo comprar tudo que fosse de seu desejo, até mesmo o que era de ordem sentimental, uma crítica à ideia de que o dinheiro prevalente sobre os sentimentos como o amor, por exemplo.  

        O romance é profundamente reflexivo e o autor explora temas diversificados e que apontam para a revisão dos valores, levantam questionamentos sobre a vida e a morte, sobre os costumes, sobre a justiça, a crença. A narrativa também revela a hipocrisia do mundo e da sociedade, bem como a inversão dos valores a respeito da honra e vigança. A história é envolvente e surpreende o leitor até o final da leitura.