A mercadoria mais preciosa, de Jean-Claude Grumberg




       "A mercadoria mais preciosa", de Jean-Claude Grumberg   trata-se de uma fábula sobre o holocausto. Um livro delicado e ao mesmo tempo triste...uma história de cortar o coração. E não poderia ser diferente, pois a obra retrata um dos capítulos mais tenebrosos da história da humanidade, ou seja, a deportação de milhões de judeus para o campo de concentração. 
    O livro conta a história de um casal de lenhadores que vivem num bosque em condições de extrema pobreza. A senhora lenhadora observa, diariamente, a passagem de um trem pelo bosque onde moram, sempre na esperança de que os "deuses do trem" pudessem lhe enviar algum presente que amenizasse os dias sofridos de frio e de fome. 
    Num certo dia, uma recém-nascida é lançada do vagão e a lenhadora recebe esta "mercadoriazinha" como presente dos "deuses do trem", realizando o sonho de ser mãe. No entanto, ao chegar em casa, seu marido lenhador não aceita e ordena que a lenhadora se desfaça da criança, já que a julgava ser da raça dos "sem-coração". Além disso, ao adotarem a criança como filha correriam o risco de serem acusados de traição e ter a pena capital. Vencido pelos argumentos da lenhadora, resolvem ficar com a criança e com o passar do tempo, o lenhador também se apega ao bebê.  A partir deste momento, acompanhamos a luta desse casal para garantir a sobrevivência de sua filha e apesar de todo sofrimento que a trama imprime, nos alimenta de esperanças de uma vida melhor. 
      Num segundo plano, temos a história do trem onde estão milhares de judeus a caminho do campo de concentração e no decorrer da narrativa conhecemos o horror, a crueldade e os sofrimentos pelos quais passam. É um conto admirável e perturbador sobre o holocausto. A seguir deixo um trecho da obra.  

"(...) naquele grande bosque reinavam uma grande fome e um grande frio. No inverno sobretudo. No verão, um calor sufocante abatia-se sobre o bosque e enxotava o grande frio. Em compensação, a fome era constante, mais ainda naqueles tempos em que a guerra mundial assolava ao redor daquele bosque. A guerra mundial, sim sim sim sim sim. Como pobre lenhador fora requisitado para trabalhos de interesse público — em benefício apenas dos vencedores que ocupavam cidades, aldeias, campos e florestas —, era portanto pobre lenhadora que, do amanhecer ao crepúsculo, percorria o bosque na esperança, volta e meia frustrada, de abastecer seu minguado lar. Felizmente — para alguma coisa serve a desgraça — pobre lenhador e pobre lenhadora não tinham filhos para alimentar. Todo dia o pobre lenhador agradecia aos céus por essa graça. Quanto à pobre lenhadora, lamentava-se disso, secretamente. Não tinha filho para alimentar, decerto, mas tampouco filho para querer bem. Por isso, rezava aos céus, aos deuses, ao vento, à chuva, às árvores, até ao sol quando seus raios perfuravam a folhagem, iluminando a borda de seu bosque com uma transparência ofuscante. Suplicava assim a todas as potências do céu e da natureza que se dignassem de lhe conceder enfim a graça da vinda de um filho. Pouco a pouco, com a idade chegando, compreendeu que todas as potências celestes, terrestres e feéricas tinham se coligado ao lenhador seu marido para privá-la de um filho. Então, daí em diante rezou para que pelo menos cessassem o frio e a fome de que sofria de manhã à noite, de noite como de dia. Pobre lenhador levantava-se antes do amanhecer a fim de dedicar todo o seu tempo e todas as suas forças de trabalho à construção de edifícios militares de interesse geral e até general."


O autor

Jean-Claude Grumberg nasceu em Paris, em 1939. Autor de mais de trinta peças teatrais, é também roteirista de cinema (François Truffaut, Costa-Gavras) e de TV.  

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   Detalhes do produto

  • Capa comum: 80 páginas
  • Editora: Todavia; Edição: 1 (7 de agosto de 2019)
  • Idioma: Português

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