XXXIII
EMBEBEDAI-VOS
É preciso estar-se, sempre, bêbado. Tudo está lá, eis a
única questão. Para não sentir o fardo do tempo que parte vossos ombros e
verga-vos para a terra, é preciso embebedar-vos sem tréguas.
Mas de quê? De vinho, de poesia ou de virtude, a escolha é vossa. Mas
embebedai-vos.
E se, às vezes, sobre os degraus de um palácio, sobre a grama verde de uma
vala, na solidão morna de vosso quarto, vós vos acordardes, a embriaguez já
diminuída ou desaparecida, perguntai ao vento, à onda, à estrela, ao pássaro,
ao relógio, a tudo o que passa, a tudo o que geme, a tudo o que rola, a tudo o
que canta, a tudo o que fala, perguntai que horas são; e o vento, a onda, a
estrela, o pássaro, o relógio, vos responderão: “É hora de embebedar-vos! Para
não serdes escravos martirizados do Tempo, embebedai-vos, embebedaivos sem
parar! De vinho, de poesia ou de virtude: a escolha é vossa.”

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