Publi #2: Nobel - Jacques Fux

Livro: Nobel
Autor: Jacques Fux
Editora José Olympio, 2018. 128p.
Avaliação ★★★★


      Nesta obra, o personagem  Jacques Fux é laureado com o prêmio Nobel de Literatura e a construção da narrativa está estruturada com base em seu discurso de aceitação diante da Academia Sueca. E neste discurso, ele irá nos revelar de modo divertido e irreverente, as intrigas e polêmicas envolvendo o nome dos escritores laureados e consagrados no mundo da literatura. 

"Reza a tradição honrar e homenagear os que aqui estiveram. Aclamá-los como mestres, ídolos, fontes de inspiração e reverência. Colocá-los num patamar sacralizado e quase inatingível. No Hall da fama e da Glória. Olímpicos. Mas concedam-me outra digressão. É no desvio, nos atos indecorosos, nos recalques obscenos, sórdidos, sorrateiros que repousa o verdadeiro autor e as suas mais sensíveis e honestas palavras." 

"Em meu discurso, farei questão de enaltecer os atos e os textos infames. Tudo que foi e é clandestino e vergonhoso. A infâmia, amigos, é um efeito com valor de sentido. É uma exaltação. Uma necessidade de dar atenção especial ao que não foi inventariado, mas ao que pode ser inferido, resgatado e recriado nas falhas, nas calúnias, nos esquecimentos. Àquilo que nem a própria ficção alcança." 

           
        É interessante notar que o narrador nos leva a refletir para o fato do endeusamento dos escritores por suas criações literárias. Por outro lado, desconhecemos sua história, sua personalidade, sua vida, os caminhos que os levaram até aquele prêmio máximo da literatura. E por meio dessas provocações, o narrador desnuda o lado frágil, complexo, confuso de cada um dos escritores que ele menciona na obra, revelando escândalos como assédio sexual, plágio, traições, vícios, os casos de suicídio, dentre outros. Dessa forma, o autor nos chama a atenção ao apontar que os escritores são seres humanos e por isso, cometem erros, falhas e assim, faz uma síntese da essência humana, desvelando as suas fraquezas e "vasculhando as profundezas do desconhecido."

       Com relação ao personagem, ele está no auge de sua carreira, no seu momento de glória e não perde a oportunidade para falar tudo o que sente e o que pensa. Ele não leva em consideração nenhum tipo de protocolo cerimonial, não se sente constrangido com o que releva de si e dos demais laureados, além de não possuir modéstia alguma. Ele também revela suas falhas, seus erros e deslizes que muitas vezes serviram de inspiração para a construção de suas histórias.  Portanto, é um tipo de narrativa que tem o humor e a crítica como uma de suas marcas associado a espontaneidade do personagem.

        Em última análise, esta obra nos leva a pensar e a questionar os critérios utilizados pela Academia para as escolhas dos laureados, as influências existentes, além de nos fazer recordar do recente escândalo de assédio, agressões e violência sexual  envolvendo um membro da Academia Sueca que desencadeou em uma crise. É um livro com uma escrita encantadora e riquíssimo no que diz respeito à vida e obra dos laureados e toda a crítica envolvendo a Academia Sueca. 

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                Jacques Fux venceu o Prêmio São Paulo de Literatura de 2013, com o livro Antiterapias. É doutor e pos-doutor em Literatura Comparada e um matemático apaixonado. Autor de Literatura e Matemática: Jorge Luis Borges, Georges Perec e o Oulipo (Prêmio Capes de Melhor Tese do Brasil de Letras/ Linguística), Brochadas: confissões sexuais de um jovem escritor e Meshugá: um romance sobre a loucura. Foi pesquisador-visitante na Universidade de Harvard e escritor residente na Ledig House, em Nova York.



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