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| Arthur Schnitzler |
Arthur Schnitzler nasceu em Viena, em 1862. Médico e escritor, foi o autor de livros como Breve romance de sonho, O caminho para a liberdade e O médico das termas. Morreu em sua cidade natal, em 1831. (Jornal Rascunho, 2011).
O conto começa com um homem, que se chama Franz, aguardando ansiosamente por uma mulher conhecida por Emma. O narrador vai nos fornecendo, aos poucos, as pistas acerca do desenrolar daquele encontro e da situação dos dois personagens. Percebemos que existe uma certa tensão quando os dois se encontram, uma preocupação por parte da mulher em não ser vista e nem reconhecida pelas pessoas na rua, não se sentia segura ali .... naquele lugar ela corria riscos e ao longo da história nos deparamos com diversas situações de perigo para os personagens. Portanto, os dois decidem pegar um coche para uma outra cidade, um local onde pudessem ficar despreocupados. Até então, não sabemos muito bem dos detalhes desse encontro, quem são os personagens, o que eles pretendem fazer. Desse modo, essas lacunas e questionamentos deixados pelo narrador conferem ao texto um certo suspense que, por sua vez, estimula a nossa imaginação, fazendo passar "mil coisas" pela nossa mente, o que leva o leitor a ficar na expectativa em relação ao desfecho.
[ Spolier]
Em seguida, descobrimos que Emma e Franz são amantes e se encontram escondidos na rua escura e deserta da cidade. Emma é casada com um professor renomado, tem um filho e uma vida estável ao lado da família. Os amantes decidem pegar um coche para outra cidade e no decorrer da viagem, Emma e Franz sofrem um acidente com o coche que, ao capotar, lança os dois para fora:
Após se dar conta do acidente, Emma percebe que Franz estava ferido e inconsciente e pede para que o cocheiro busque ajuda, mas talvez pelo estado em que se encontrava o acidentado, já fosse tarde demais. Em seguida, Emma é tomada pelo desespero ao pensar na possibilidade de ser descoberta naquela situação com seu amante e começa a correr abandonando o corpo do amante ao acaso.
Emma consegue retornar para casa antes mesmo do marido, mas se questiona se Franz de fato estaria morto, e por um instante, se preocupa com essa possível situação que poderia levar Franz a uma vingança contra Emma, revelando o nome da mulher misteriosa que estaria com ele no momento do acidente, mas descarta esta possibilidade pelo fato de Franz estar morto e os mortos calam, e assim, retoma sua rotina como se tudo aquilo não tivesse acontecido.
Eu gostei bastante do conto, a narrativa vai ficando cada vez mais intensa, e sempre me impressiona essa capacidade de uma história nos inquietar, e ainda nos transportar para aquelas cenas. Do mais, a narrativa trata de assuntos de amor e de morte, sobre hipocrisia social, representação do ideal do núcleo familiar e sua desconstrução. Além disso, me chamou a atenção a ambientação, a história se passa em um ambiente noturno e sombrio .
Você encontra o conto "Os mortos calam" no livro Escombros e Caprichos: O melhor do conto alemão no século 20. Seleção e Prefácio Rolf G. Renner, Tradução, Pósfácio, Glossário e Notas de Marcelo Backes - Porto Alegre, RS: LPM, 2004.
O conto começa com um homem, que se chama Franz, aguardando ansiosamente por uma mulher conhecida por Emma. O narrador vai nos fornecendo, aos poucos, as pistas acerca do desenrolar daquele encontro e da situação dos dois personagens. Percebemos que existe uma certa tensão quando os dois se encontram, uma preocupação por parte da mulher em não ser vista e nem reconhecida pelas pessoas na rua, não se sentia segura ali .... naquele lugar ela corria riscos e ao longo da história nos deparamos com diversas situações de perigo para os personagens. Portanto, os dois decidem pegar um coche para uma outra cidade, um local onde pudessem ficar despreocupados. Até então, não sabemos muito bem dos detalhes desse encontro, quem são os personagens, o que eles pretendem fazer. Desse modo, essas lacunas e questionamentos deixados pelo narrador conferem ao texto um certo suspense que, por sua vez, estimula a nossa imaginação, fazendo passar "mil coisas" pela nossa mente, o que leva o leitor a ficar na expectativa em relação ao desfecho.
[ Spolier]
Em seguida, descobrimos que Emma e Franz são amantes e se encontram escondidos na rua escura e deserta da cidade. Emma é casada com um professor renomado, tem um filho e uma vida estável ao lado da família. Os amantes decidem pegar um coche para outra cidade e no decorrer da viagem, Emma e Franz sofrem um acidente com o coche que, ao capotar, lança os dois para fora:
"Ela teve a impressão de que o coche de repente voara para o alto... ela sentiu que era lançada longe, queria se segurar em algo, mas agarrou o vazio ; parecia-lhe que se movia em círculo, em velocidade alucinada, a ponto de ter de fechar os olhos... E de repente sentiu-se deitada no chão e um silêncio pesado e monstruoso tomou conta de tudo, como se estivesse distante do mundo inteiro e completamente sozinha." (p.28)
Após se dar conta do acidente, Emma percebe que Franz estava ferido e inconsciente e pede para que o cocheiro busque ajuda, mas talvez pelo estado em que se encontrava o acidentado, já fosse tarde demais. Em seguida, Emma é tomada pelo desespero ao pensar na possibilidade de ser descoberta naquela situação com seu amante e começa a correr abandonando o corpo do amante ao acaso.
"Até mesmo Franz daria razão a ela. Pois ela tem de voltar para a casa, ela tem um filho, ela tem um marido ; estaria perdida caso fosse encontrada junto de seu amante morto."(p.31)
"E se o destino tivesse determinado as coisas de forma diferente? E se ela jazesse agora lá, e ele tivesse escapado com vida? Ele não teria fugido, não...ele não. Mas ele é um homem, ela uma mulher – e tem um filho e um marido. Teve razão, é o seu dever, sim, o seu dever. Sabe muito bem que não agiu por senso de dever... Mas, mesmo assim, fez o correto. Sem querer... como...sempre as pessoas boas... Agora ela já teria sido descoberta. Agora os médicos lhe perguntariam. E o seu marido, minha senhora? Oh, Deus! E os jornais amanhã, e a família, estaria aniquilada para todo o sempre e nempoderia tê-lo ressuscitado dentre os morto."
Emma consegue retornar para casa antes mesmo do marido, mas se questiona se Franz de fato estaria morto, e por um instante, se preocupa com essa possível situação que poderia levar Franz a uma vingança contra Emma, revelando o nome da mulher misteriosa que estaria com ele no momento do acidente, mas descarta esta possibilidade pelo fato de Franz estar morto e os mortos calam, e assim, retoma sua rotina como se tudo aquilo não tivesse acontecido.
Eu gostei bastante do conto, a narrativa vai ficando cada vez mais intensa, e sempre me impressiona essa capacidade de uma história nos inquietar, e ainda nos transportar para aquelas cenas. Do mais, a narrativa trata de assuntos de amor e de morte, sobre hipocrisia social, representação do ideal do núcleo familiar e sua desconstrução. Além disso, me chamou a atenção a ambientação, a história se passa em um ambiente noturno e sombrio .
Você encontra o conto "Os mortos calam" no livro Escombros e Caprichos: O melhor do conto alemão no século 20. Seleção e Prefácio Rolf G. Renner, Tradução, Pósfácio, Glossário e Notas de Marcelo Backes - Porto Alegre, RS: LPM, 2004.

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