Conto #2: Medidas contra a violência ( Bertolt Brecht)

Foto: Wikipédia
   Bertolt Brecht (1898-1956) nasceu em Augsburg, no estado da Baviera, na Alemanha, no dia 10 de fevereiro de 1898.  Foi um dramaturgo, romancista e poeta alemão.  
  Neste conto temos a história do senhor Keuner e já no início, o narrador diz se tratar de um homem pensante, e este palestrava para os seus alunos contra a violência. O que me chamou a atenção  nessa primeira parte foi o destaque com que o narrador se refere ao senhor Keuner, ou seja, como "o Pensante", isso mesmo, com letra maiúscula para enfatizar que se trata de uma pessoa que desenvolve bem suas ideias, suas teorias, mas pelo contexto, também uma expressão que considero irônica pelo fato de, imediatamente, na cena seguinte, agir de modo oposto ao que pronunciava na teoria. Existe ai um choque entre teoria e prática. 
       Enquanto discursava contra a violência , o senhor Keuner percebeu uma agitação no auditório e o afastamento das pessoas que pareciam assustadas, até que ele se depara com a própria violência, que o questiona "O que tu disse?" . O senho Keunner, responde: "Eu pronunciava a favor da violência". Sendo assim, recua diante da situação de perigo, da ameaça, da repressão, talvez por medo ou covardia.  
      No entanto, o senhor Keuner não parecia se sentir constrangido com a atitude tomada e após deixar o auditório, os alunos o questionaram sobre a sua falta de coragem, respondendo: "A coragem que não tenho não chega para me açoitar. Justamente alguém como eu precisa viver mais tempo que a violência". 
     Em seguida, ele se justifica contanto uma outra história que envolve o poder do Estado, a propriedade, o totalitarismo, a repressão, violência, o medo, a obediência, dentre outras questões.  Segue o trecho:

  "À casa do senhor Egge, aquele que aprendeu a dizer não, chegou certo dia, no tempo da ilegalidade, um agente exibindo um certificado expedido em nome daqueles que dominavam a cidade dizendo que lhe pertencia toda a casa em que pusesse os pés; da mesma forma, pertencia-lhe toda a comida que lhe pedisse; da mesma forma, deveria servi-lo todo o homem  que ele visse.   
O agente sentou-se numa cadeira, pediu comida, lavou-se, deitou-se e perguntou, com o rosto virado para a parede, antes de adormecer:
     - Tu vais me servir?    
O senhor Egge cobriu-se com a coberta, espantou as moscas em volta dele, vigiou seu sono e, assim como nesse dia, obedeceu ao longo de sete anos. Mas, se fazia tudo pelo agente, uma coisa guardou-se de fazer: dizer uma palavra que fosse. Quando se passaram os sete anos e o agente já engordara de tanto comer, dormir e mandar, o agente acabou morrendo. O senhor Egge enrolou-o em sua coberta deteriorada, arrastou-o para fora de casa, lavou a sala, caiou as paredes, suspirou e enfim respondeu: -Não!

Bertolt Brecht, "Medidas contra a violência"em Escombros e Caprichos: O melhor do conto alemão no século 20. Seleção e Prefácio Rolf G. Renner, Tradução, Pósfácio, Glossário e Notas de Marcelo Backes -  Porto Alegre, RS: LPM, 2004.
































     

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